Bem Vindo ao Rememorando as Divas o Blog que pretende resgatar e valorizar a memória do Rádio do Brasil.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

As divas do rádio

Os concursos que elegiam as Rainhas do Rádio começaram em 1936, organizados pelo jornal Diário da Noite e pelo bloco carnavalesco Cordão dos Laranjas, no qual a cantora Linda Batista ganhou  a coroa, repetindo o feito por três vezes. Para Maria Luisa Rinaldi,autora do livro “As Rainhas do Rádio”, os concursos se traduziam num fenômeno capaz de caracterizar claramente o processo pelo qual funcionava a Indústria Cultural da época. (HUPFER,2009,P.23-24).
Para o radialista Manoel Canário, tornar-se uma rainha do rádio representava prestígio, ao gravar discos, participar dos filmes da chanchada, fazer publicidade, se apresentar no Brasil e no mundo. A partir delas, surgiu esse mundo glamoroso vivenciado pelos artistas, permanecendo até os dias atuais.

A Associação Brasileira de Rádio (ABR) começou a organizar os concursos a partir de 1948, quando este passou a ter a finalidade de arrecadar fundos para a construção do Hospital dos Radialistas, que acontecia através da venda de ingressos. Os programas de auditório no qual ocorriam esses concursos era um fenômeno na época.  O concurso era patrocinado por uma grande empresa; eles davam uma espécie de cupom, ou seja, quem comprasse mais o produto ou cupons seria a eleita.
Nas eleições do concurso de Rainha do Rádio, nem sempre o público decidia qual cantora ganharia. Muitas vezes as empresas que patrocinavam as candidatas investiam mais em uma determinada cantora do que em outra, “Sempre houve fraudes nesses concursos, naquela época, não tinha ibope; todos pensavam que a Emilinha iria ganhar, mas o patrocinador decidiu investir mais na Marlene, então ela saiu vencedora”, relata Manuel Canário.
Além de ganhar a coroa, Marlene também ganhou o patrocínio de uma marca famosa de refrigerante, elevando o seu número de fãs. Mas Emilinha não deixou de ter a sua importância, foi à primeira cantora a ter um fã-clube.Já Marlene participou de toda a programação musical da Rádio Nacional, de 1949 até 1965. Com essa eleição, Marlene que não era tão conhecida, ao ganhar de Emilinha, adquiriu também o ódio de seus fãs, ocasionando a rivalidade entre as torcidas.A disputa entre as duas era tanta que Marlene contou que quando ela ganhou o concurso de carnaval, as fãs de Emilinha a esperavam na saída da emissora com pedaços de pau nas mãos. Outro episódio vivenciado pela cantora Marlene foi uma joelhada na barriga, que sofreu durante sua gravidez, por parte de uma fã de Emilinha.(AGUIAR,2010,p.128).
 Ser uma Rainha do Rádio era muito importante em uma época em que a mulher só era reconhecida pelo seu trabalho no lar. Ser cantora representava a oportunidade profissional e a perspectiva de carreira heterogênea da população urbana.
A mulher naquela época ficava mais tempo em casa porque não trabalhava  fora. Assim, tinha mais tempo para ouvir o rádio, fidelizando e aumentando a audiência dos programas.A diva representava uma porta de liberdade para a mulher da época, que vivia subordinada ao marido, ao pai  e ao machismo da sociedade daquele período.
 A influência das divas na formação da música popular brasileira foi extrema; elas influenciaram gerações com seus timbres marcantes e letras intensas, a exemplo das cantoras Maria Betânia, Gal Costa e Elba Ramalho, fãs assumidas das vozes de Dalva, Emilinha e Ângela Maria. As brigas conjugais entre Dalva e Herivelto Martins inspiravam os compositores.  Segundo o radialista Perfilino Neto, a melhor representante dos concursos foi Emilinha Borba, ela se expressava bem, além de possuir boa desenvoltura, mantinha uma postura conservadora; isso lhe dava credibilidade diante de seus fãs, num período onde o preconceito contra as mulheres reinava.
As Divas foram de certa forma uma revolução numa época em que tudo era proibido.Elas eram mulheres á frente do seu tempo, pois para uma mulher ganhar o seu  próprio dinheiro, numa sociedade machista, era muita coisa; representava uma autonomia numa época em que a mulher era dependente do marido. Isso sem contar na vida amorosa das divas que como Dalva de Oliveira se casou novamente, numa época em que o divórcio não era visto com bons olhos.