Bem Vindo ao Rememorando as Divas o Blog que pretende resgatar e valorizar a memória do Rádio do Brasil.

Perfis das divas

Emilinha Borba:
Nascida em 31 de agosto de 1923, Emilinha Savana da Borba iniciou sua carreira aos 11 anos de idade, quando se inscreveu,, acompanhada por um primo, no programa Calouros do Ari, do compositor Ari  Barroso. Sua mãe, dona Edithi, não aprovou a idéia de ter uma filha cantora, já que, naquela época, ser artista não era uma profissão vista como decente pela sociedade. (HUPFER, 2009, p. 45).
Em 1937, Emilinha, aos 14 anos, já tinha ganhado o seu primeiro prêmio musical no programa de calouros Hora Juvenil, da rádio Cruzeiro do Sul, onde nesse mesmo programa formou dupla com Bidu Reis, parceria que durou cerca de um ano e meio. Em 1939, sua mãe trabalhava como zeladora no cassino da Urca, Carmem Miranda, cantora de sucesso na ocasião, criou uma amizade com Dona Edithi e por intermédio da mesma conheceu Emilinha. Impressionada com o talento da menina, Carmem a colocou para fazer show no cassino, mesmo ela sendo menor de idade. Foi no Cassino da Urca que a cantora ganhou destaque e adquiriu experiência musical, cantando com orquestras compostas por grandes músicos da época; a partir de então, chegar à Rádio Nacional foi um passo.
( www1.folha.uol.com.br).
 Emilinha passou a ser estrela da Rádio Nacional. Ela tinha todos os atributos na época que os empresários precisavam: desenvoltura no palco e ótima comunicação. A cantora estrela chegou a sair duas vezes na capa da revista carioca, em 1942, sem mencionar as centenas de reportagens internas; sua popularidade teve início a partir desse momento. Ela era moldada para ser uma estrela popular, uma moça simples, simpática, educada, talentosa e responsável. A consagração da cantora aconteceu quando foi eleita “A favorita da Marinha”, em 1947, pelos próprios marinheiros; sua popularidade entre eles reverteu-se na quantidade de shows realizados nos navios de guerra da marinha brasileira, o que lhe rendeu uma gravação de uma marcha “Aí vem a Marinha”, de Moacyr Silva e Lourival Faissal. (AGUIAR,2010,p.109).
 Emilinha era atenciosa com seus fãs, sempre respondia a suas cartas através da seção “Diário de Emilinha “, veiculada na Revista do rádio.
Era uma cantora que transmitia uma imagem de conservadora que agradava e convinha aos seus fãs.De acordo com a Rádio Nacional, Emilinha foi a cantora a receber mais cartas na emissora; no ano de 1955, ela recebeu 20.445 cartas, um número de dar inveja a qualquer concorrente. (AGUIAR,2010,p.99).


Em 1953, foi eleita a Rainha do Rádio.Seus fãs deram salários inteiros para ver a estrela ser eleita, e se revezavam, dia e noite, para tomar conta das urnas. Depois de emplacar sucessos como “Baião de dois” e “Tomara que chova”, foi eleita. A cantora não ficou somente no rádio, também fez filmes entre 1939 e 1967 como “Banana da Terra”, “Não adianta chorar”, “É Fogo na roupa” e “Cala a boca, Etelvina”. Emilinha era uma cantora de voz afinada que cantou vários ritmos como o samba, baião, choro,guarãnia, dentre outros. (AGUIAR,2010,p.101).
 Durante a década de 60, gravou diversas músicas de sucesso, cerca de 117 discos com 216 músicas. Sua vida pessoal era calma e tranquila uma típica família de classe média. Emilinha foi casada com Artur Sousa Costa; juntos eles viveram por 23 anos até o seu falecimento em 1980.(AGUIAR,2010,p.107).
 Em 1968 começou a sair da cena artística devido à operação de um edema nas cordas vocais; ela não conseguiu recuperar o timbre de voz. Emilinha morreu em 03 de outubro de 2005, aos 82, anos no seu apartamento em Copacabana, vitima de um infarto. (www.letras.com.br/biografia).



Marlene:
Nascida em 22 de novembro de 1924, Vitoria de Martino Bonnaiutti era caçula da família, nasceu no bairro da região Paulista Bela Vista. A cantora veio de família protestante, estudou no colégio Batista, como interna, e lá destacou-se no coral juvenil. Ao deixar o colégio, iniciou o curso de contabilidade na Faculdade do Comércio em São Paulo. Nessa época passou a freqüentar assiduamente a casa de uma cantora de rádio, amiga sua, que morava em seu bairro. A partir desse episódio, surgiu a sua paixão pelo veículo de comunicação; a cantora deixou de ir às aulas e começou a trabalhar no rádio. Mesmo com sua mãe sendo contra sua profissão, não desistiu e escreveu para o empresário carioca Armando Silva, informando-lhe seu sonho de seguir uma carreira artística. O empresário mandou a passagem para o Rio de Janeiro, surgindo a tão sonhada oportunidade. (HUPFER,2009,P.81).
Marlene atuou em vários cassinos e boates, dentre eles o Cassino Icaraí, onde começou sua carreira como crooner[1],até chegar ao Copacabana Palace por intermédio de Caribe da Rocha. Passou a atuar em rádios como Mayrink Veiga, Rádio Globo, e em 1948, estreou seu programa na Rádio Nacional, onde se tornou uma das maiores estrelas da emissora, recebendo o slogan “ela que canta e dança diferente”. A canção “coitadinho do papai” foi uma das três marchas mais cantadas no carnaval de 1948. A cantora esperou o término do seu contrato com o Copacabana Palace para se dedicar a rádio, aos discos, cinema e teatro. (HUPFER,2009,P.80)
Ao entrar na Rádio Nacional, Marlene ganhou o título de Rainha do Rádio, muito disputado com a cantora Emilinha Borba, até então favorita. Marlene recebeu o apoio de uma grande empresa de refrigerante que lhe deu um cheque em branco para a compra dos votos, e em 1949 foi eleita rainha com 529.982 votos. Dessa forma,  surgiu a famosa rivalidade entre Emilinha e Marlene, uma rivalidade que se deveu ao marketing que contribuiu para uma popularidade de causar espanto no Brasil. Quem gostava de Marlene odiava Emilinha e vice-versa, uma rivalidade evidenciada também na política da época. As duas eram rivais não só pelos fãs mas também por suas características: Emilinha era associada à doçura e à mulher do lar, e Marlene era associada a mulher moderna e sensual. O titulo lhe rendeu prestigio e influência na rádio Nacional; a cantora permaneceu lá até o fechamento do auditório da rádio (www.letras.com.br/biografia).
Marlene participou da revista “Deixa que eu chuto”, atuou intensamente no teatro,na televisão e no cinema, quando participou do filme “Tudo Azul” e gravou diversos sucessos com uma intensa discografia(www.letras.com.br/biografia). Desde os anos 90, Marlene Brilha no Carnaval da Cinelândia e ainda recebe o carinho dos fãs em seu apartamento em Copacabana. (http://cantoramarlene.blogspot.com/).


[1] Ser crooner é cantar todo o repertório que tem vontade, enquanto o público quiser e pedir novas canções.

Dalva de Oliveira: Nascida em 5 de Maio de 1917,em Rio Claro, interior de São Paulo, Vicentina de Paula Oliveira,”Dalva de Oliveira” veio de uma família humilde, filha de um carpinteiro e clarinetista nas horas vagas e de uma portuguesa, naturalizada brasileira. Tornou-se órfã de pai aos 8 anos de idade, e sua mãe resolveu tentar a vida em São Paulo. Dalva estudou no internato e teve aula de piano, órgão e canto. Depois da sua saída do internato, passou a trabalhar como faxineira em uma escola de dança e iniciou sua carreira mostrando a todos sua poderosa voz enquanto tocava piano. (www.netsaber.com.br).
            Dalva tentou carreira no Rio de Janeiro, onde estão as oportunidades artísticas. Sem conhecer ninguém, Dalva passou a trabalhar numa fábrica de chinelos, onde conheceu Milonguito, famoso intérprete, sócio da fabrica e também da Rádio Ipanema. Em 1935, começou a cantar na Rádio Mayrink Veiga, poderosa emissora da época. Conheceu seu futuro esposo, Herivelto Martins, e junto com Nilo Chagas formaram o Trio de Ouro(HUPPER,2009, P,84).
Dalva não ficou muito tempo no trio; dona de um timbre poderoso, e uma intérprete inigualável, começou a fazer carreiro solo. Dalva é que dava vida ao Trio de Ouro. Após a sua saída, o grupo acabou. Em contrapartida, vivia em um casamento conturbado com o cantor Herivelto, e, em 1947, separou-se. As brigas do casal renderam excelentes músicas, letras profundas que falavam de ressentimento, paixão e fossa.
Brigas pela guarda dos dois filhos do casal começam, e os fãs tomam partido. Sua imagem é associada ora ,à mulher dona de casa,ora à mulher revolucionária.
Enquanto sua vida pessoal sucedia-se de escândalos, sua vida profissional alcançava o mais alto sucesso. Foi contratada pela Rádio Nacional e eleita Rainha do Rádio. Sendo ovacionada pelos fãs, Dalva de Oliveira comemora o título para a fúria de seu ex-marido, Herivelto Martins. Em 1949, casou-se com o Argentino Tito Climent; o mesmo levou a cantora para várias excursões fora do país. Em 1965, Dalva sofreu um grave acidente de carro, e interrompeu a carreira por alguns anos; em 1970, quando retornou aos palcos, ela lançou o sucesso “Bandeira Branca”. (www.reporterdiario.com.br).
Dalva de Oliveira morreu em 31 de agosto de 1972, aos 55 anos de idade, de hemorragia interna, supostamente causada por um câncer no esôfago.(http://opiniaoenoticia.com.br/cultura/dalva-de-oliveira/).

 
Ângela Maria: Abelim Maria da Cunha, Ângela Maria, nasceu em 13 de maio de 1929, em Macaé, Estado do Rio de Janeiro. Originada de uma família muito humilde, seu pai sem condições de criá-la, a entregou a parentes. Foi morar na casa de dona Joaquina, irmã do compositor Pixinguinha, no bairro de Vila Isabel. Seu pai conseguiu um emprego e tomou a filha de volta e a colocou no colégio, e como pertencia a uma família protestante, começou a cantar no coral da igreja. (HUPFER,2009,P,91).
Por volta de 1947, começou a frequentar programas de calouros; apresentou-se em diversas rádios até chegar à Rádio Nacional. Logo se tornou conhecida dos ouvintes; a partir daí, deixou de ser caloura, largou o emprego de inspetora de lâmpadas numa fábrica e decidiu seguir a carreira de cantora. Em 1948, Ângela Maria conseguiu lançar-se como crooner na Boate Dancing Avenida, cantou “Olhos Verdes”, música de Herivelto Martins e Benedito Lacerda. Na sua noite de estreia, os compositores Erasmo Silva e Jaime Moreira gostaram da cantora e a apresentou ao diretor da famosa Rádio Mayrink Veiga. Firmou-se como cantora em 1951, com o sucesso “Não tenho você”, batendo recordes de venda. (www.mpbnet.com.br).
Ângela Maria recebeu a nota máxima dos principais programas de calouros da época, como “Pescando Estrelas”, da rádio Clube.Um dos grandes sucessos da cantora foi o disco Mamãe que foi o maior sucesso de vendas no dia das mães.
           Em 1954, tornou-se Rainha do Rádio, e, no mesmo ano, estreou no cinema. Apelidada de “Sapoti” pelo então presidente Getulio Vargas, Ângela foi à cantora mais popular durante a década de 50. Ângela Maria até hoje atua no meio artístico aparecendo  esporadicamente na mídia.(HUPFER,2009, P,94)
  



Clelia Matos: A mais famosa rainha do rádio baiano começou sua carreira em 1951; trabalhava numa companhia de aviação e foi descoberta pelo músico Gilberto Batista, que estava à procura de uma crooner para a sua orquestra. Clelia aceitou o convite, e com isso foi levada a participar do concurso no qual todas as cantoras da época se inscreveram. O concurso funcionava assim: as fãs compravam o jornal A Tarde, recortavam um cupom, e quem tivesse mais recortes seria a rainha. (entrevista concedida por Clélia Matos em 14/09/2010).

A maior votação foi a de Clelia como rainha do rádio, e de Pacheco Filho, que foi eleito o rei do rádio.  Houve um problema com a contagem dos votos e por isso só foram coroados em 1958. Clelia tinha um grande fã-clube, organizado por dona Joselita, chefe do fã clube, e que participou de sua coroação. (entrevista concedida por Clélia Matos em 14/09/2010).

A cantora da época que Clelia mais gostava e se inspirou foi Dalva de Oliveira pela sua incrível voz e por ter seu timbre de voz comparado com o de Dalva. Clelia cantava com Álvaro Lima, e na sua orquestra, cantava em francês, inglês e português. Apresentava-se nos teatros da época, na loja Duas Américas e no jantar dançante do Iate clube, das 17 às 18 horas, às sextas feiras, transmitidos ao vivo pela Rádio Cultura. (Jornal A Tarde de 1958).
Clelia ressalta “Ser uma rainha do rádio na época era como ser Miss Bahia, o povo que candidatou a gente”. O concurso incentivado pela rádio Sociedade e patrocinado pelo jornal A Tarde teve poucas edições em função da chegada da televisão. Enquanto durou sua fama, Clelia cantou com muitos artistas, dentre eles as cantoras Linda e Dircinha Batista, além, de ter participado de três filmes. Clelia que hoje tem 82 anos conta que essa época deixou saudade. Ela largou a carreira no auge e garante: “Naquele tempo tinha que ter voz para cantar não é como hoje”. (entrevista concedida por Clélia Matos em 14/09/2010).
      Assim como as outras Rainhas, Clelia também sofreu com as restrições da época; costumava usar as pernas de fora, o que lhe rendeu até a separação do seu primeiro marido.Clélia Matos viajou durante 60 dias  com a Orquestra Tabajara em 1958 para ao Rio de Janeiro onde gravou duas canções “Inverno sem você” e “baiana do acarajé”, e fez apresentações nas emissoras de rádio e TV cariocas.Foi recebida pelos colegas baianos que militavam na rádio carioca, e concedeu entrevistas. Ficou tão empolgada que disse no período querer concorrer também ao titulo de rainha do rádio do Brasil ((Jornal A Tarde de 1958).